Conservação e recuperaçao de nascentes um benefício para agricultura agricultura1

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MOREIRA, P.R2.

VILLA NOVA, N.A3.

A água é um dos principais componentes da biosfera sendo um recurso mineral fundamental na evolução e na manutenção das formas de vida animal e vegetal do planeta bem como, na formação de minerais, rochas e consequentemente dos solos. A importância não pode ser entendida de maneira simplificada, em virtude de sua essencialidade.

A preservação dos mananciais de água deve ser uma preocupação de todos. Certamente em um futuro não muito distante, enfrentaremos problemas com o abastecimento de água, mesmo hoje já é um produto escasso em diversas regiões do Brasil, já enfrentamos problemas de racionamento de energia devido a sua falta, pois a matriz energética do pais está baseada na energia hidráulica e nos combustíveis fosseis.

Entretanto, simplesmente a construção de barramentos para armazenamento, não resolve o problema básico, ou seja, ao se construir uma barragem se assegura o fornecimento, mas não garante que a água continuará a verter nas nascentes.

O que é uma nascente? Foto 1

Existe uma infinidade de tipos de nascentes, sendo as mais comuns as que afloram do lençol freático, ou olho d’água (brota da terra) e as pontuais provenientes do meio de rochas. Ao se modificar as condições naturais de uma nascente com ações como desmatamento, compactação do solo, a utilização inadequada de máquinas agrícolas, ausência de práticas de conservação do solo, entre outras pode-se comprometer o fluxo da água, nesse ponto a intervenção humana é geral mente prejudicial e sem critérios.

O consumo de água é sempre crescente, mesmo que a população não cresça. A simples melhora no padrão da qualidade de vida gera um consumo maior de água. Portanto além de construirmos reservatórios, devemos tratar de

proteger as nascentes, mananciais e recuperar as áreas degradadas, procurando sempre intervenções que visem aumentar a disponibilidade de água.

Agricultura quer dizer “água” por isso abordamos aqui alguns aspectos que poderiam ajudar a preservar nossos recursos hídricos.

O primeiro aspecto a ser abordado seria a visão e a ação sistêmica que deveríamos possuir quando formos pensar e agir para recuperação de mananciais. As nascentes estão inseridas numa mesma bacia Hidrográfica, recuperação e as intervenções de manejo deveriam abranger a área total da bacia, pois recuperações isoladas acabaria por não surtir resultados esperados.

A – Zonas Ripárias/Matas ciliares, Preservação e Enriquecimento

A exploração agrícola irracional das áreas que margeiam os córregos e as e as nascentes são as maiores responsáveis pela diminuição dos cursos d’água e nascentes em propriedades rurais. A função ecológica já é, sem dúvida, razão suficiente para justificar a necessidade de conservação das zonas ripárias (constituem a interface entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, caracterizadas por enorme variabilidade de fatores ambientais, processos ecológicos, comunidades vegetais, além de funcionar como corredor extremamente importante para movimentação da fauna silvestre). Na escala da microbacia a vegetação ripária é grande responsável pelo regime ambiental do ecossistema aquático em termos de qualidade e quantidade de água.

Outro fator de degradação é a urbanização. É urgente a proibição total de edificações ou construção de qualquer empreendimento, e em regiões com declividades altas muitas sujeiras a erosão. Também se faz necessário a capacitação técnica em conservação e manejo ambientais de engenheiros das empreiteiras de construções de estradas, sejam elas privadas ou publicas.

B. Implantação de um programa de microbacias

Com apoio técnico e financeiro dos proprietários de áreas rurais. É irracional esperar que as pessoas façam tudo por sua iniciativa se esperarmos por isso, daqui  alguns  anos  o custo será maior. Temos um grande exemplo, o

programa de microbacias que foi implantado no estado do Paraná há alguns anos, com excelentes resultados. Consiste basicamente na preservação e restauração das matas ciliares, implantação de curvas de nível em todas as propriedades de cada microbacia, além de práticas agrícolas que protegem e conservam mais o solo, como plantio direto por exemplo, que já é a muito tempo utilizado no estado do Paraná.

Construção de bacias coletoras na extensão das estradas, garantindo que mais água seja carreada ao sub-solo. Um programa desses só obtém resultados se for feito dentro da realidade econômica dos proprietários rurais, ou seja, são necessários apoios financeiros e técnicos, do contrário tudo permanecerá nas esferas das intenções e discursos.

C. Projetos de restauração

Originalmente mais de 80% da área do Estado de São Paulo era recoberto por florestas, no entanto, o intenso processo de ocupação do interior paulista conduzido pela expansão da agricultura levaram, nos últimos 150 anos, a uma drástica redução dessa cobertura que hoje corresponde à cerca de menos de 7 % da área do estado.

Embora protegidas legalmente desde a década de 60, nem mesmo as áreas de preservação permanente foram poupadas nesse processo de avanço da fronteira agrícola, onde ações como desmatamento compactação do solo e pastoreio desordenado entre outras degradam os cursos d’ água.

Uma das iniciativas modestas, porem eficientes seria a implantação de mudas de espécies nativas da flora regional nas áreas das nascentes e mananciais. O custo das mudas é baixo diante dos resultados de recuperação ambiental e da estética paisagística.

Funções do ecossistema ripário e das árvores próximas de mananciais (Mata Ciliar)

Estabilização de áreas críticas que são as ribanceiras dos cursos d’ água, pelo desenvolvimento e manutenção de um emaranhado radicular;

Como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossistema aquático, participa do controle do ciclo dos nutrientes na bacia hidrográfica, através de ação tanto no escoamento superficial, quanto na absorção de nutrientes do escoamento superficial pela vegetação ciliar;

Diminuição e filtragem do escoamento superficial, impede ou dificulta o carreamento de sedimentos para os rios, contribuindo para manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas;

Pela integração com a superfície da água, proporciona cobertura e controle da temperatura da água, alimentação para peixes e outros componentes da fauna aquática.

Gostaríamos de salientar que para a recuperação de APPs (Área de Preservação Permanente), leva-se em consideração a capacidade de auto recuperação natural de cada situação, que é definida pelas características históricas, de uso da área, sua ocupação atual considerando os manejos próprios e períodos dessa ocupação e a existência de Fragmentos florestais nas proximidades, que poderiam atuar como fonte dispersora de sementes.

Sendo assim o manejo dos recursos naturais de cada área ser restaurada nunca vai poder ser incrementado através de formulas universais, será necessário, portanto a implementação de diferentes formas de recuperação (métodos de implantação), que variam desde a indução da regeneração natural até a eliminação dos fatores de degradação e regeneração artificial (plantio de mudas de árvores) visando frear o processo de degradação ambiental.

Considerações finais

Um ponto preocupante refere-se a falta de critérios e assistência técnica especializada no manejo dos recursos naturais com uma abordagem completa do agroecossistema visando a recuperação ambiental, sem os frequentes desperdícios e aumento dos custos de produção.

Pela importância que este tema apresenta para nossa casa comum, a terra e pela atual crise energética/ambiental, é preciso, pois uma ampla tomada de consciência de toda a sociedade. Torna-se urgente e necessário acreditar e agir para que ações de melhoria de qualidade de vida, conservação e recuperação ambiental não comprometerão o desenvolvimento, mas sim beneficiarão a competitividade e sustentabilidade dos agroecossistemas e do ambiente.

2 Paulo Roberto Moreira Eng.o Florestal, Mestre em Conservação e Manejo de Recursos Naturais – UNESP, Consultor Ambiental e doutor em Biologia Vegetal com ênfase em solos e restauração de ecossistemas, UNESP Rio Claro E-mail paulofloresta@terra.com.br;

3 Nilson Augusto Villa Nova Prof. Doutor da Universidade de São Paulo – ESALQ/USP, Departamento de Ciências Exatas E-mail: navnova@carpa.ciagri.com.br

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